sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Seu Nome Era Brasília, de Duplanir de Souza Filho

 
  
  
  
  
Fotos: Arquivo Revelando os Brasis

A Professora em uma Comunidade Alemã

 
  
  
  
  


Os desafios enfrentados por uma professora em uma comunidade Alemã, em Rio Forquilhas, São Pedro de Alcântara - SC, norteia o enredo do vídeo de Irene Reis da Silva. “A Professora em uma Comunidade Alemã”, é o relato de um recorte na vida da diretora. Aos 18 anos, com uma filha de quatro meses, encarou o desafio de lecionar em uma escola com crianças alemãs. Ela teria a difícil tarefa de ensinar português para estudantes que só conheciam o dialeto alemão.

Segundo a diretora, a intenção é mostrar as dificuldades enfrentadas, principalmente pelos alunos, que só aprendiam o português quando começavam a estudar na escola. Ela conta que, na época, a distância de 17km era percorrida com dificuldade pela falta de transporte, e justamente por isso os alunos só estudavam até a 4ª série. Alguns, quando chegavam ao final do ano, baixavam o rendimento para serem reprovados e permanecerem na escola.

Para Irene, a comunidade alemã integrada por 600 pessoas é um pedacinho do Brasil. “Ali, encontramos um dialeto diferente, alimentação, características bem marcantes. Acho que consegui mostrar isso com o vídeo”, explica a diretora.
Para gravar a ficção, a professora contou com a ajuda da comunidade. O primeiro local que buscou ajuda foi na escola “Reunida de Santa Filomena”. “Não foi difícil conseguir voluntários ali”, lembra.
Sua filha, Joyce da Silva, 21 anos, interpretou a professora. Os demais participantes foram alguns alunos e o casal Zimermann, que falou sobre o tempo de convivência com a professora. De acordo com a diretora, não foi difícil mobilizar a cidade, todos queriam participar. Agora, quem participou das gravações está curioso para conhecer o resultado.
Apesar do envolvimento da cidade um dos atores voluntários teve que ser substituído na última hora. O pai do rapaz não permitiu a participação dele no vídeo. A diretora destaca a participação de Liane Castilhos, outra selecionada pelo Revelando os Brasis ano III, no seu vídeo. Liane trabalhou como assistente e fotógrafa.
Depois das gravações Irene considerou a experiência maravilhosa. “Foi cansativo, mas incrível. Minha idéia era mostrar esse pedacinho do Brasil que precisava ser revelado e acho que consegui”, explica.

Fotos: Arquivo Revelando os Brasis

Taipa no Estado de São Paulo

 
  
  
  
 

O documentário “Taipa no Estado de São Paulo” apresenta o processo de construção de moradias que persistem ainda em núcleos de remanescentes de quilombos em
Iporanga (SP) e em municípios vizinhos. São as casas de Taipa.

No vídeo, a diretora mostra a relação da casa com quem a possui e a importância disso. Para gravar o documentário, a arquiteta enfrentou 14 km de estrada de chão, depois de alguns dias de chuva. Ela lembra que só conseguiu chegar ao local das gravações com o apoio de uma mula e um guia da cidade. “Para quem não está acostumado com a estrada é ainda mais difícil. O Gustavo, cinegrafista, caiu várias vezes no percurso. Teve momentos que eu achei que ele não fosse se levantar”, lembra.

Foram dois dias intensos de gravações. A comunidade cancelou um mutirão para plantação só para realizar o trabalho no dia das gravações. Nesse dia, fizeram uma grande festa. Prepararam um almoço farto e muita música, tudo foi registrado e entrou no documentário. A diretora lembra que os moradores do local fizeram questão de participar do vídeo.

Segundo Lia Márcia, muitas casas na região já perderam as características de origem e acabaram sendo trocadas por casas de alvenaria. Essa foi uma das dificuldades enfrentadas para a realização do documentário. Um dos poucos que ainda resiste ao novo e mantém a tradição da casa feita de terra é o Sr. José Muniz, 75, o “Juquinha”. Ele foi um dos entrevistados no documentário e fala sobre a importância da sua casa.

Outro entrevistado no documentário foi o Sr. Antônio Ursulino de Matos, vice-presidente dos remanescentes de quilombos. Ele falou sobre a associação de quilombos, a relação entre eles e a forma de convivência do grupo.

O Barbeiro de São Pedro da União

 
  
  

As pessoas da cidade contam que Joanico era um homem sem cerimônia, largava mesmo o cliente em sua cadeira e saía para ver os acontecimentos da rua. João Custódio Vieira, o Joanico, era barbeiro, e dos bons, mas tinha essa mania. Podia ser qualquer acontecimento da rua, Folia de Reis, futebol entre cidades vizinhas e até sanfoneiros itinerantes. Chegava a deixar as pessoas esperando um bom tempo enquanto “breganhava” um cavalo com os ciganos em troca de uma peruca. Mas era um barbeiro de mão cheia e muito querido pelos moradores de São Pedro da União (MG), tanto que não faltaram contribuições para o vídeo de Francisco Tadeu Pereira, neto de Seu Joanico, para o Revelando os Brasis Ano III.

Em quinze minutos, ele narra um dia na vida de seu avô, quando um estranho entra na barbearia e pede um corte de cabelo, mas é interrompido por diferentes acontecimentos. O cliente, na verdade um jornalista que estava à procura de causos para contar, perde o dia na barbearia, mas sai cheio de histórias.
Tadeu não foi longe para escolher seu atores, na verdade isso fazia parte do que planejava para o seu projeto. “Queria que o meu vídeo fosse algo que envolvesse pessoas da minha cidade, para ser justamente um pequeno passo para a carreira de cada um”, disse. Para isso, e também para manter a qualidade da atuação, usou um critério para a sua escolha. “Procurei pessoas que tivessem contato com público e algumas até com a profissão que iriam encenar, justamente para quebrar a timidez diante da câmera”. Assim, um bancário da cidade foi o jornalista, uma enfermeira fez o papel de sua própria profissão e um frentista fez o papel de cigano. Este, inclusive, com um acontecimento inusitado durante as gravações. Enquanto esperava na esquina para entrar em cena, já caracterizado de cigano, um senhor a cavalo desceu a rua e começou a travar conhecimento com o ator, que não quis estragar o encanto e encarnou o personagem até o fim da conversa, até mesmo por um motivo bem plausível: o senhor a cavalo era sogro do ator e, detalhe, os dois estavam brigados há anos. Por fim, o cavalheiro foi-se embora se despedindo com um aceno sem reconhecer o genro.

Fotos: Arquivo Revelando os Brasis

Paraíso 1975

 
  
  
  
Fotos: Arquivo Revelando os Brasis

Guaranésia - Os Irmãos Masotti e o Cinema

 
  
  
  
  
Minas Gerais nas décadas de 10 e 20 apresentou mais pólos de produção que qualquer outro estado brasileiro.

Claro que Rio e São Paulo contavam com maior número de pessoas trabalhando no cinema, mas geralmente concentradas em poucas cidades. Em Minas, não : filmou-se em Belo Horizonte,Guaranésia, Pouso Alegre,Cataguases, Ouro Fino e Juiz de Fora.

Em 1923 chega em Guaranésia : Carlos Masotti, italiano da cidade de Lonato, dando início à história do cinema na cidade, que hoje, com o Revelando os Brasis, tem mais um representante: Alberto Emiliano, que conta como esta familia de origem italiana desenvolveu a sua arte na pequena cidade de Guaranésia.

Os Três Coveiros

  
  
 
  
  

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Os quilombolas de Talhado

Galpão de produção
Da esquerda para direita: Riccardo Migliore (câmera e fotografia), José Aderivaldo (diretor) e seu José Batista, o único homem que participa da produção das panelas no galpão na cidade de Santa Luzia.


Equipe colhendo o relato de dona Rita em frente ao galpão de produção das louças no bairro São José
Igreja matriz de Santa Luzia

Talhado rural
Equipe de produção saindo para as filmagens na serra do Talhado


A gravação do documentário Talhado ocorreu tanto na zona rural como em parte da zona urbana da cidade de Santa Luzia, Paraíba, entre os dias 19 e 23 de setembro. Isto porque nessas localidades se encontram respectivamente o Quilombo do Talhado e o Quilombo Urbano de Serra do Talhado que são as fontes de onde saiu a história que se tornou documentário.

O Talhado já é muito conhecido, e tudo graças ao documentário “Aruanda” de Linduarte Noronha realizado na localidade na década de 1960. Este documentário contou o processo de ocupação do sítio Talhado pelo escravo fugitivo de nome Zé Bento a partir de quem se constituiu posteriormente toda a comunidade.

Distante da cidade a 25 km, o sítio Talhado possui um difícil acesso em função da serra e das condições da estrada. Os seus moradores vivem basicamente da agricultura familiar e do trabalho em mineração. Na década de 1970 houve um processo de migração bastante intenso dos moradores do Talhado para a cidade de Santa Luzia e passando a povoar principalmente os bairros São José e São Sebastião. Em 2004 o Talhado foi reconhecido pela Fundação Palmares como área remanescente de quilombo e no ano seguinte parte do bairro São José foi reconhecida como extensão do Talhado e, portanto, área quilombola também.

A vida no Talhado mudou, veio o reconhecimento quarenta anos depois do filme de Linduarte utilizar o termo quilombo. Todos esses fatos produziram uma nova relação entre os agora oficialmente quilombolas e o restante da cidade. Nesse novo momento duas coisas se destacam: a produção da cerâmica na cidade, uma vez que o processo de migração extinguiu a produção na zona rural, e a musicalidade. O Talhado é o “berço” de grandes músicos, sobretudo, de sanfoneiros que passam a animar a vida cultural da cidade.

O documentário que leva o mesmo nome do quilombo é um registro desse novo momento que aquela comunidade vive. Não se trata, portanto, de um remake do “Aruanda” mas sim a retratação de um nova identidade daquela população e que não era assim reconhecida. A idéia de ressurgimento se contrasta com a incerteza dos rumos que vai tomar a comunidade seja pela migração da zona rural para a zona urbana seja pelas dificuldades de sobreviver apenas da produção artesanal. Existe uma opção polêmica do diretor de mostrar as tensões que fazem parte da vida de uma comunidade quando se trata da manutenção das tradições, da permanência na terra, da sobrevivência, bem como entre as gerações que ali vivem.

Assim os entrevistados fazem esse quadro e tornam o documentário interessante. Seu Sebastião e dona Joana são o casal mais antigo e que reside no sítio e preserva os seus valores. Juntamente com dona Rita, que mora hoje na zona urbana, mostram deste modo uma história que se construiu naquela comunidade; professora Gilvaneide retrata o presente da comunidade, alguém que esteve bastante envolvida com todo o processo de reconhecimento e que no seu dia-a-dia repassa aos alunos que tem o significado e a importância de ser quilombola; Céu, líder das louceiras e presidente da associação dos quilombolas do Talhado urbano, também expressa essa atualidade: a vinda da zona rural para fazer panela e diversificar essa produção, o aumento da interdependência da cidade e o conseqüente reconhecimento como área Quilombola; os sanfoneiros Titico e Nuna são figuras muito simbólicas desse novo momento no qual existe uma visibilidade maior dada a estes músicos que, entretanto, não apaga da lembrança a situação de vida que tinham na época em que moravam no sítio. Por fim, a Janaína, jovem e filha da Gilvaneide, é expressão dessa nova mentalidade, das perspectivas de futuro vivenciadas pelos jovens quilombolas.

O documentário Talhado revela um pouquinho do Brasil escondido entre as serras do Vale do Sabugi, na Santa Luzia.

Fotos: José Aderivaldo

Jardim de Plástico




Uma reflexão histórica sobre o garimpo. É isso que propõe o diretor Delmar Alves de Araújo, de Lençóis (BA), com a realização do vídeo de ficção “Jardim de Plástico”. O enredo reflete a dificuldade que os garimpeiros enfrentaram, na década de 1990, quando foram proibidos pelo governo de trabalhar nos garimpos da Chapada Diamantina. Na época, muitos se viram sem alternativa de sobrevivência.

O jeito foi aproveitar a vocação turística da região para sobreviver. No vídeo, a situação de muitos garimpeiros da região será representada pelos senhores Coriolando Rocha de Oliveira, 82 anos, construtor do Jardim de Plástico, e Anísio Macedo, 80. Eles eram garimpeiros de serra (garimpeiro artesanal) e interpretam as histórias de outros garimpeiros e suas próprias histórias. Com a proibição do garimpo, um vira guia turístico e o outro constrói no quintal a réplica de um garimpo aberto a visitação dos turistas.

O autor conseguiu reunir um elenco com 200 figurantes, todos moradores de Lençóis. Para facilitar o trabalho da produção, o grupo de 18 produtores foi dividido em núcleos menores responsáveis por organizar figurino, cenário, música e elenco.
Delmar conta que a cidade abraçou o projeto. “Eu fiz tudo o que podia para que as pessoas entendessem o objetivo deste vídeo. Convidei as pessoas que gostam de teatro, as igrejas, prefeitura, os veículos de comunicação locais e a universidade. A cidade se envolveu e colaborou para que as gravações fossem um sucesso”.

Segundo Delmar, os ex-garimpeiros que participaram das reuniões de pré-produção do vídeo se emocionaram quando ouviram a história que iria ser transformada em vídeo. “Alguns gritavam quando eu terminava de ler o roteiro, dizendo: ‘essa é a minha história!’ Foi emocionante demais ver o quanto as pessoas se encontravam dentro do texto”, explica Delmar.

O envolvimento da cidade durante as gravações foi tão grande que vários grupos de manifestação cultural e religiosa se uniram para promover a realização do vídeo. O jarê (variação do candomblé que, de acordo com Delmar, só existe em Lençóis), os grupos de boi bumbá, capoeira, cavalgada, baianas, Igreja Católica, o cineclube da cidade, a Orquestra Filarmônica e as Ciganinhas (formado por crianças da região) foram alguns dos envolvidos.

Todos queriam participar. Inúmeros curiosos foram para os locais de gravação para ver os trabalhos. Alguns tentaram aparecer no vídeo de qualquer jeito, provocando certo tumulto, que teve que ser controlado pela Polícia Militar e Guarda Municipal. Em alguns momentos, as gravações foram interrompidas por causa do flash das máquinas fotográficas dos turistas.

O envolvimento da cidade no projeto trouxe inúmeros benefícios, segundo o diretor. Tudo foi organizado com antecedência, mas um imprevisto mudou a rota do caminhão que transportaria os animais que participariam de algumas cenas. Os moradores de Lençóis envolvidos nas gravações se reorganizaram e providenciaram outro transporte para não atrasar a produção.

Todos os participantes do elenco são amadores – os garimpeiros se revelaram verdadeiros artistas. Eles tiveram a oportunidade de fazer uma reflexão sobre suas próprias histórias.

A cena mais esperada foi a gravação da procissão do Senhor Bom Jesus dos Passos, padroeiro dos garimpeiros. A procissão aconteceu no dia 10 de setembro, junto com a reinauguração da capela.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Revelando uma história


O vídeo “Revelando Minha Vida” retrata a história de seu autor, Fleury da Silva de Almeida. A trajetória é narrada a partir do momento em que o diretor completa sete anos. Ele vai aparecer no vídeo com uma caixa de isopor vendendo “geladinha”.

Em seguida as cenas nos remetem ao tempo em que Fleury e sua família foram morar no Pará, uma tentativa de seu pai de melhorar de vida com a indústria moveleira. Não deu certo e novamente foram obrigados a mudar de cidade. Dessa vez a rota seguia em direção a Sapezal, Mato Grosso. Lá seu pai trabalhou com agricultura, mas novamente não deu certo. O destino os levou para Araguapaz, em Goiás, local onde, o diretor faz questão de frisar, lutaram por um pedaço de terra e pela Reforma Agrária.

É no acampamento que será exibido um dos momentos mais difíceis da vida do jovem, que nesta época tinha apenas 10 anos de idade. As dificuldades em chegar até a escola e as condições precárias do transporte escolar, não o impediram de estudar e concluir o Ensino Médio.

Com a luta, sua família conquistou um terreno de 17 alqueires onde construíram uma casa em que moram seus pais e dois irmãos mais novos. O diretor e sua irmã moram na cidade, onde ele também trabalha num frigorífico da região.

Para relatar todos esses momentos Fleury teve que contar com ajuda. As filmagens no acampamento foram feitas num local onde residem duas mil famílias acampadas. O figurino usado no filme é dos próprios atores. A igreja da Conquista Mundial, denominação fundada em Araguapaz, foi umas das principais instituições apoiadoras do filme. Eles cederam o espaço da igrejinha para as gravações, momento, que segundo o diretor, foi um dos mais emocionantes.

Para mobilizar a cidade, Fleury contou com o apoio das rádios locais, que noticiaram os dias e horários das gravações e fizeram o convite para quem quisesse participar. Cerca de 70 compareceram para as filmagens.

Mais do que tradição


A ficção “Triunfo, o Início de uma Tradição” é uma história baseada em fato real. Um surto de febre amarela dizimava a população de Itapoá. Foi quando apareceu uma mulher misteriosa chamada Maria, que fez uma promessa para São Pedro, pedindo ao santo que acabasse com o sofrimento das pessoas. Em troca, ela prometeu erguer uma capela em homenagem a São Pedro.

Foram necessários 5 dias para a gravação das cenas. O elenco foi integrado por 20 figurantes. A escolha dos personagens, segundo o diretor Daniel Ignácio da Silva, foi feita por afinidade e interesse.

Para mobilizar a cidade, até anúncio em rádio o diretor colocou. Daniel, ficou impressionado com a interpretação de alguns atores, um deles Franklin da Silva, de 8 anos. “Ele me surpreendeu. O menino é muito novo e deu muita realidade a cena. Se comportou como um ator profissional”, explica.

Para Daniel, o vídeo acaba tendo um fundo religioso, mas não foi essa sua intenção ao realizar o vídeo, mesmo a cidade sendo a maioria católica. “Eu queria que os moradores da cidade assistissem ao filme e se identificassem com ele, tivessem orgulho de dizer que essa é a nossa história”, afirma.

Segundo o diretor o resultado do trabalho foi surpreendente. Ele explica que deu muito trabalho. Como a história começa com a construção de uma linha de trem, eles tiveram que construir o trecho de uma linha férrea. Outro detalhe da gravação foi a utilização de três cavalos para interpretar apenas um. “Isso foi muito legal. Utilizamos três cavalos como se fosse um e não dá para perceber a diferença”, comemora.

A Arte contra a opressão


Um vídeo para refletir. Assim é o documentário “Arte na Ruína”, de Wagner San, de Xapuri (AC), que retrata a trajetória do ambientalista Chico Mendes pela ótica de jovens artistas da cidade. O grupo com o nome que dá título ao vídeo, é formado por 40 integrantes, com idade média de 22 anos. Eles são músicos, atores, cantores, artistas plásticos e dançarinos.

Juntos desde setembro de 2007, transformam o espaço onde foi a delegacia da cidade em ambiente para democratização da arte. Abandonado, o prédio foi usado por policiais que faziam a segurança de Chico Mendes, no momento em que o ambientalista fora baleado, para se refugiarem, deixando de prestar socorro à vítima e de capturar os assassinos.

Hoje o grupo transforma o espaço de opressão em um lugar de reflexão. Utilizam a arte como um “grito”, um desabafo diante de tanta injustiça. Para o diretor do vídeo, Wagner San, os jovens da região estão carentes de políticas públicas voltadas para eles, e o trabalho do grupo tem possibilitado o diálogo com várias instâncias.

Ruína para ele, tem vários significados. É a degradação física do espaço onde ocorre a manifestação da cultura, é a falta de atenção para com as necessidades dos jovens, é o descaso da própria sociedade com a história de Chico Mendes.

O espetáculo, apresentado uma vez por mês em Xapurí, e que agora vira vídeo, segundo o diretor, retrata Chico Mendes de maneira poética, metafórica e subjetiva. “Nós não concluímos nada, apenas apresentamos em forma de poesia, dança, teatro, música quem foi Chico Mendes e as contribuições que ele trouxe para a sociedade. Deixamos uma reflexão. Cabe ao espectador suas próprias conclusões”, explica.

No vídeo uma participação especial: Elenira Mendes, filha de Chico Mendes, que fala sobre o pai.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

YUBE NAWA AÎBU - Mulher jibóia encantada

O movimento religioso do Santo Daime começou no interior da floresta amazônica, nas primeiras décadas do século XX, com o neto de escravos Raimundo Irineu Serra. Foi ele que recebeu a revelação de uma doutrina de cunho cristão, a partir da bebida Ayahuasca (vinho das almas), denominada por eles de Santo Daime.
Mas antes disso, a bebida já era conhecida e utilizada por povos indígenas, tanto brasileiros quanto incas, que a utilizavam para terem visões “das coisas do presente, passado e futuro e do além, que não se pode ver com olhos da carne”, como diz a tradição.

Diz uma das lendas indígenas, que a Hoasca (como também é conhecida a bebida), foi conseguida por um índio, que um dia andando pela floresta viu uma anta namorando uma mulher jibóia da lagoa. Ele se apaixona pela mulher e larga a família para viver com ela dentro do lago. Lá, ele tem filhos e é integrado à família da nova esposa, que têm a tradição de tomar a Ayahuasca. No começo, ele não foi bem recebido pelos novos parentes, mas aos poucos foi sendo aceito e até passou a fazer parte dos ritos. Mas um dia, ele se arrepende ao saber das dificuldades que sua família terrena passava e, com a ajuda de um pequeno peixe encouraçado, volta pra casa. Mas a felicidade dura pouco, pois a sua antiga família da lagoa decide se vingar do Índio, e o devoram quando ele passava próximo da lagoa enquanto caçava. Antes de morrer, ele revela à sua tribo o segredo da Ayahuasca, que desde então se torna uma tradição de seu povo.

Vandete Cerqueira Sereno Kaxinawá conta esta história em sua ficção “YUBE NAWA AÎBU - Mulher jibóia encantada”, selecionada para o Revelando os Brasis Ano III. Residente da Aldeia Central Cruzeirinho, Vandete tem sua própria história de vida relacionada à Hoasca, e mostra isso no seu vídeo. Até os nove anos de idade, ele só falava português. Com o avô, começou a aprender a língua de seu povo, o hãtxa kui. Um dia, ao ver seus tios tomando o cipó, a Ayahuasca, e cantando músicas tradicionais, ele teve curiosidade de aprendê-las. Mesmo contra a vontade da mãe, ele tomou o cipó: “Aí, vi coisas bonitas. Vi trabalhos, o futuro que eu iria ter”, diz ele.

Para a realização do seu projeto, Vandete contou com a ajuda dos professores indígenas de sua tribo e da Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá (OPIRJ), que é um instrumento importante na luta dos direitos dos povos indígenas da região e, durante muito tempo, foi uma referência nacional quando o tema era demarcação de terras.



 
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