sexta-feira, 31 de outubro de 2008

O Barbeiro de São Pedro da União

 
  
  

As pessoas da cidade contam que Joanico era um homem sem cerimônia, largava mesmo o cliente em sua cadeira e saía para ver os acontecimentos da rua. João Custódio Vieira, o Joanico, era barbeiro, e dos bons, mas tinha essa mania. Podia ser qualquer acontecimento da rua, Folia de Reis, futebol entre cidades vizinhas e até sanfoneiros itinerantes. Chegava a deixar as pessoas esperando um bom tempo enquanto “breganhava” um cavalo com os ciganos em troca de uma peruca. Mas era um barbeiro de mão cheia e muito querido pelos moradores de São Pedro da União (MG), tanto que não faltaram contribuições para o vídeo de Francisco Tadeu Pereira, neto de Seu Joanico, para o Revelando os Brasis Ano III.

Em quinze minutos, ele narra um dia na vida de seu avô, quando um estranho entra na barbearia e pede um corte de cabelo, mas é interrompido por diferentes acontecimentos. O cliente, na verdade um jornalista que estava à procura de causos para contar, perde o dia na barbearia, mas sai cheio de histórias.
Tadeu não foi longe para escolher seu atores, na verdade isso fazia parte do que planejava para o seu projeto. “Queria que o meu vídeo fosse algo que envolvesse pessoas da minha cidade, para ser justamente um pequeno passo para a carreira de cada um”, disse. Para isso, e também para manter a qualidade da atuação, usou um critério para a sua escolha. “Procurei pessoas que tivessem contato com público e algumas até com a profissão que iriam encenar, justamente para quebrar a timidez diante da câmera”. Assim, um bancário da cidade foi o jornalista, uma enfermeira fez o papel de sua própria profissão e um frentista fez o papel de cigano. Este, inclusive, com um acontecimento inusitado durante as gravações. Enquanto esperava na esquina para entrar em cena, já caracterizado de cigano, um senhor a cavalo desceu a rua e começou a travar conhecimento com o ator, que não quis estragar o encanto e encarnou o personagem até o fim da conversa, até mesmo por um motivo bem plausível: o senhor a cavalo era sogro do ator e, detalhe, os dois estavam brigados há anos. Por fim, o cavalheiro foi-se embora se despedindo com um aceno sem reconhecer o genro.

Fotos: Arquivo Revelando os Brasis

1 Comentário:

Unknown disse...

Outra vertente de como quero que meu filme seja encarado. Dou ênfase a figura do Barbeiro e faço paralelo com o modo operantis dos indivíduos do nosso tempo. Hoje, é comum falar em desacelaração, correto! Então, exemplificarei o ínicío deste. O Barbeiro é uma figura compremetida com o que esta a sua frente, "chamo de olhar curto"; Trabalha o suficiente pra sobreviver e qdo seu organismo dá sinais de necessidades, não há reflexão, o atende e pronto. Portanto, abandonar o cliente na cadeira e atentar para o que esta a sua volta, o que pra ele é simples, creio que seria o que teriamos que fazer pra frear nossos ritmos de vida. Hoje, colocamos o futuro como prioridade, assim, como os papéis são colocados na bolsa de valores, ficando evidente a valorização do "ilusório do mal" em detrimento ao palpável. Trazer uma idéia a tona, passa-la pro papel, mostrar aos outros e vêla reconhecida é o maxímo pra mim. Aqui, fica evidente o processo de uma valorização que me encanta "ilusório do bem". A medida que digito,este, tento de todas as maneiras dar sentidos a estes sinais gráficos, para que vc(leitor), de valor e me recompense com seu entendimento. Hoje, vivemos numa sociedade descartável, do imediatismo, do consumo exagerado, do olhar curto, diferente do Barbeiro. O olhar do Barbeiro é direcionado ao contentamento da sua alma, do imediatismo que acrescenta ao indivíduo e não o imediatismo descartável. Creio, que a econômia copiou a literatura, e o fez de forma errada, exagerou na valorização do papel moeda, transformou o devaneio em pesadelo. Atentemos ou lembremos de uma condição,(somos mortais); Penso que esta é a premissa principal pro desapego, digo, em termos de matéria. Um homem sem sonho é um homem morto, concordo com o ditado; Valorizo o ilusório que contenta as coisas simples da vida, dou as costas pro ilusório materialista que transforma o sonho em pesadelo. Creio, que esta é ótica do Barbeiro de São Pedro da União. Desaceleremos!!!

Francisco Tadeu Pereira
Diretor do Filme.

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