O movimento religioso do Santo Daime começou no interior da floresta amazônica, nas primeiras décadas do século XX, com o neto de escravos Raimundo Irineu Serra. Foi ele que recebeu a revelação de uma doutrina de cunho cristão, a partir da bebida Ayahuasca (vinho das almas), denominada por eles de Santo Daime.
Mas antes disso, a bebida já era conhecida e utilizada por povos indígenas, tanto brasileiros quanto incas, que a utilizavam para terem visões “das coisas do presente, passado e futuro e do além, que não se pode ver com olhos da carne”, como diz a tradição.
Diz uma das lendas indígenas, que a Hoasca (como também é conhecida a bebida), foi conseguida por um índio, que um dia andando pela floresta viu uma anta namorando uma mulher jibóia da lagoa. Ele se apaixona pela mulher e larga a família para viver com ela dentro do lago. Lá, ele tem filhos e é integrado à família da nova esposa, que têm a tradição de tomar a Ayahuasca. No começo, ele não foi bem recebido pelos novos parentes, mas aos poucos foi sendo aceito e até passou a fazer parte dos ritos. Mas um dia, ele se arrepende ao saber das dificuldades que sua família terrena passava e, com a ajuda de um pequeno peixe encouraçado, volta pra casa. Mas a felicidade dura pouco, pois a sua antiga família da lagoa decide se vingar do Índio, e o devoram quando ele passava próximo da lagoa enquanto caçava. Antes de morrer, ele revela à sua tribo o segredo da Ayahuasca, que desde então se torna uma tradição de seu povo.
Vandete Cerqueira Sereno Kaxinawá conta esta história em sua ficção “YUBE NAWA AÎBU - Mulher jibóia encantada”, selecionada para o Revelando os Brasis Ano III. Residente da Aldeia Central Cruzeirinho, Vandete tem sua própria história de vida relacionada à Hoasca, e mostra isso no seu vídeo. Até os nove anos de idade, ele só falava português. Com o avô, começou a aprender a língua de seu povo, o hãtxa kui. Um dia, ao ver seus tios tomando o cipó, a Ayahuasca, e cantando músicas tradicionais, ele teve curiosidade de aprendê-las. Mesmo contra a vontade da mãe, ele tomou o cipó: “Aí, vi coisas bonitas. Vi trabalhos, o futuro que eu iria ter”, diz ele.
Para a realização do seu projeto, Vandete contou com a ajuda dos professores indígenas de sua tribo e da Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá (OPIRJ), que é um instrumento importante na luta dos direitos dos povos indígenas da região e, durante muito tempo, foi uma referência nacional quando o tema era demarcação de terras.
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